quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Follow your heart


domingo, 8 de junho de 2008

Tira a mão do queixo

Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar

E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar


Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

Jorge Palma

sábado, 7 de junho de 2008

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes

Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe

Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
Levará você de mim

Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste

Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar

Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer

Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Bilhete invisivel

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
Enfim,
Tem de ser bem devagarinho, Amada,
Que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana

Encostar na tua

Eu quero te roubar pra mim

Eu que não sei pedir nada
Meu caminho é meio perdido
Mas que perder seja o melhor destino

Agora não vou mais mudar
Minha procura por si só
Já era o que eu queria achar
Quando você chama meu nome
Eu que também não sei aonde estou
Pra mim que tudo era saudade
Agora seja lá o que for

Eu só quero saber em qual rua
Minha vida vai encostar na tua

E saiba que forte eu sei chegar
Mesmo se eu perder o rumo
E saiba que forte eu sei chegar
Se for preciso eu sumo

Eu só quero saber em qual rua
Minha vida vai encostar na tua

Ana Carolina

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Vem...


"Vem... Que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Vem... Que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois"

Musica "Como Vai você"

Faz-me acreditar

Quem amo, Quem quero, Não posso esconder
Nem mais um segundo eu quero perder
Se amo, não posso esperar
Perdi tanto tempo, Até te encontrar

Mas tu chegaste, E um céu mais azul, Eu descobri
Se me quiseres, Estarei sempre aqui

Vem, Faz-me rir, Faz-me chorar
Faz-me perder, Faz-me ganhar
Faz-me morrer, Faz-me viver

Traz-me o amanhecer
Faz-me querer sem duvidar
Faz-me mentir, Faz-me jurar
Faz-me o que queres, Mas por favor
Faz-me acreditar no amor!

Anjos

domingo, 25 de maio de 2008

Tatuagem

Na vida estamos desprotegidos, aquem das correntes do destino,


Vulneráveis às mudanças, e prisioneiros do tempo.

Tudo deixa marcas... e jamais voltaremos a ser os mesmos.

A bagagem está carregada com sentimentos, sensações, aprendizagens, experiências,...

Estamos cada vez mais fatigados, mas lutamos por sobreviver e dar a volta,

Havendo uma lição, só tu decides aprender ou não...

No entanto, os acontecimentos ficam gravados em nós... como uma tatuagem!
Marta Cadilhe

Amanheceu


Amanheceu na minha vida

Encontrei-te senhor

E compreendi o que é o amor

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Escolhe

Agarra me com força
ou
Solta-me para sempre

Nada é por acaso

Cada pessoa que passa em nossa vida,
passa sozinha,
é porque cada pessoa é única
e nenhuma substitui a outra!

Cada pessoa que passa em nossa vida,
passa sozinha,
e não nos deixa,
só porque deixa um pouco de si
e leva um pouquinho de nós.

Essa é a mais bela responsabilidade da vida
e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.

Charles Chaplin

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Love me

Love me with all intensity
not when I deserve
but when I need

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Mulher

Mulher: a mais nua das carnes vivas e aquela cujo brilho é o mais suave.
Antoine de Saint-Exupéry

Problemas

"Ter problemas na vida é inevitável...
Ser derrotado por eles, é opcional!"

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Viagens

Já vai alta a noite,
vejo o negro do céu,
deitado na areia,
o teu corpo e o meu.

Viajo com as mãos
por entre as montanhas e os rios,
e sinto nos meus lábios
os teus doces e frios.

E voas sobre o mar,
com as asas que eu te dou,
e dizes-me a cantar:
"É assim que eu sou".

Olhar para ti
e ver o que eu vejo,
olhar-te nos olhos
com olhares de desejo.

Eu não tenho nada de mais p'ra te dar,
Esta vida são dois dias,
e um é para acordar,
das histórias de encantar.

Viagens que se perdem no tempo,
viagens sem princípio nem fim,
beijos entregues ao vento,
e amor em mares de cetim.

Gestos que riscam o ar,
e olhares que trazem solidão,
pedras e praias e o céu a bailar,
e os corpos que fogem do chão.

E voas sobre o mar,
com as asas que eu te dou,
e dizes-me a cantar:
"É assim que eu sou".

Olhar para ti
e ver o que eu vejo,
olhar-te nos olhos
com olhares de desejo.

Pedro Abrunhosa

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Homem certo

Enquanto imaginares muito o homem da tua vida,
acabas por construir uma pessoa que não existe...
... esquecendo o valor da pessoa que tens ao teu lado!

Não existe o homem ideal. Existe sim o homem certo.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Pontes entre nós

Eu tenho o tempo,
Tu tens o chão,
Tens as palavras
Entre a luz e a escuridão.
Eu tenho a noite,
E tu tens a dor,
Tens o silêncio
Que por dentro sei de cor.

E eu, e tu,
Perdidos e sós,
Amantes distantes,
Que nunca caiam as pontes entre nós.

Eu tenho o medo,
Tu tens a paz,
Tens a loucura
Que a manhã ainda te traz.
Eu tenho a terra,
Tu tens as mãos,
Tens o desejo
Que bata em nós um coração.

E eu, e tu,
Perdidos e sós,
Amantes distantes,
Que nunca caiam as pontes entre nós.

Pedro Abrunhosa

sábado, 26 de abril de 2008

Eu não sei quem te perdeu

Quando veio,
Mostrou-me as mãos vazias,
As mãos como os meus dias,
Tão leves e banais.
E pediu-me
Que lhe levasse o medo,
Eu disse-lhe um segredo:
"Não partas nunca mais".
E dançou,
Rodou no chão molhado,
Num beijo apertado
De barco contra o cais.
E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.
Abraçou-me
Como se abraça o tempo,
A vida num momento
Em gestos nunca iguais.
E parou,
Cantou contra o meu peito,
Num beijo imperfeito
Roubado nos umbrais.
E partiu,
Sem me dizer o nome,
Levando-me o perfume
De tantas noites mais.
E uma asa voa
A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.

Pedro Abrunhosa

Meu bem amado









Meu bem amado,
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Ei-lo que vem.
Eu sou para o meu amado
Meu amado é para mim
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Ei-lo que vem.
Ele salta pelas montanhas
E pula pelas colinas
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Ei-lo que vem.
Como é belo e encantador
Aquele que minha alma ama
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Ei-lo que vem.
Tu que vens ao meu jardim
Faz-me ouvir a tua voz
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Meu bem amado,
Ei-lo que vem.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Medida

Jogo contra o destino.
Cada minuto, cada desafio.
Livre neste baldio da liberdade humana,
Arrisco a consciência dos meus actos
Na roleta da sorte.
O triunfo e a derrota não me importam.
Nenhuma triunfo vale o sol que o doira,
E nenhuma derrota o é na morte
Que temos certa.
Quero apenas fazer a descoberta
Do que posso e não posso,
Sem poder nada.
Aprendo a conhecer o meu tamanho
Pela maneira como perco ou ganho.

Miguel Torga

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Tu


Tu que te escondes sob o olhar do senhor,

E te proteges à sua sombra.Diz ao senhor:

"Tu és o meu refúgio e a minha cidadela!"

domingo, 13 de abril de 2008

Vida

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...
William Shakespeare

sábado, 12 de abril de 2008

Terror de te amar

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Fica


"A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura a paixão maior ou nos diz que nunca se sentiu assim.

O Príncipe Encantado não é o namorado mais romântico do mundo que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol para os ombros a meio da noite para não nos constiparmos.

Não é o que diz "Amo-te", mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre.

Não é o que olha todos os dias para nós, mas o que olha por nós todos os dias.

O Príncipe é um Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo muito importantes.

Ora, com tantos sapos no mercado... como é que não nos enganamos?

É fácil. Se for mesmo ele, fica."

Margarida Rebelo Pinto

terça-feira, 8 de abril de 2008

Tudo o que eu te dou

Sentado na poltrona, beijas-me a pele morena

fazes aqueles truques que aprendeste no cinema
mais peço-te eu, já me sinto a viajar
pára, recomeça, faz-me acreditar
"Não", dizes tu, e o teu olhar mentiu
enrolados pelo chão no abraço que se viu
é madrugada ou é alucinação
estrelas de mil cores, ecstasy ou paixão
hum, esse odor, traz tanta saudade
mata-me de amor ou da-me liberdade
deixa-me voar, cantar, adormecer

Pedro Abrunhosa - "Tudo o que eu te dou"

segunda-feira, 31 de março de 2008

A casa é tua

"A casa é tua, entra, experimenta, mora um bocadinho no meu coracao e ouve o teu a bater.Talvez ele te diga se este é o teu lugar e chegaste ao fim da tua viagem.

A casa é tua, fica-te por aí até saberes o que queres, porque querer é poder e, se depender de mim, eu quero que fiques para sempre, enquanto o que sinto por ti for verdade."

Margarida Rebelo Pinto

quinta-feira, 27 de março de 2008

Puzzle

Sou como um puzzle. As pessoas que amo representam as pecas. Eu so faco sentido quando todas estao encaixadas! Por isso, preciso de todas...


(Marta Cadilhe)

quinta-feira, 20 de março de 2008

Forever

"Os ventos que às vezes nos tiram algo que amamos, são os mesmos que nos trazem algo que aprendemos a amar. Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado, e sim, aprender a amar o que nos foi dado...

Pois tudo aquilo que realmente é nosso... nunca se vai para sempre..."
(Fernando Pessoa)

terça-feira, 18 de março de 2008

Momentos

(foto tirada por mim)


Momentos

São para esquecer ou lembrar

Sorrir ou chorar...



Momentos

São feitos de olhos, bocas, mãos

São feitos de pernas e coração

de emoção e sentimentos....



Momentos

São partidas e chegadas

lua , sol, entardecer

silêncio ,cama fria ,música,

poesia,boêmia ,madrugada.....



Momentos

São feitos de olhos que se cruzam

Luzes que apagam

Corpos que fundem

Palavras que confundem

Sensacões inexplicáveis...



Momentos

São partículas de tempo

Lembranças por vezes queridas

Por vezes doídas

Pequenas feridas que

Paralizam breves pensamentos.



Margareth Cedron

quinta-feira, 13 de março de 2008

Too time

"Se duas pessoas voltam a encontrar-se é porque cada uma dá e recebe alguma coisa de que gosta, em que está interessada, que a atraí, que a completa" (Francesco Alberoni)


segunda-feira, 10 de março de 2008

Feridas...

Feridas que parecem não cicatrizar

E que o tempo não pode apagar...





sexta-feira, 7 de março de 2008

Lost

Estou perdida neste mundo...


Rouba-me para ti...

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Somos escravos das nossas paixões...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Para quê?!

Tudo é vaidade neste mundo vão ...
Tudo é tristeza, tudo é pó, é nada!
E mal desponta em nós a madrugada,
Vem logo a noite encher o coração!

Até o amor nos mente, essa canção
Que o nosso peito ri à gargalhada,
Flor que é nascida e logo desfolhada,
Pétalas que se pisam pelo chão! ...

Beijos de amor! Pra quê?! ... Tristes vaidades!
Sonhos que logo são realidades,
Que nos deixam a alma como morta!

Só neles acredita quem é louca!
Beijos de amor que vão de boca em boca,
Como pobres que vão de porta em porta! ...

Florbela Espanca

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Te amo quando não te amo

Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem sua metade de frio.

Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.

O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Pablo Neruda

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Amiga

Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.
Que só, de ti, me venha magoa e dor
O que me importa a mim? O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!
Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...

Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves, cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!...Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,

Os beijos que sonhei pra minha boca!...

Florbela Espanca

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!

Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A vida

É vão o amor, o ódio, ou o desdém
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo um «Pedro Sem»,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um sorriso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!...

Florbela Espanca

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Em busca do amor


O meu Destino disse-me a chorar:
"Pela estrada da Vida vai andando,
E, aos que vires passar, interrogando
Acerca do Amor, que hás-de encontrar."
Fui pela estrada a rir e a cantar,
As contas de meu sonho desfiando...
E noite e dia, à chuva e ao luar,
Fui sempre caminhando e perguntando...
Mesmo a um velho eu perguntei:
"Velhinho,Viste o Amor acaso em teu caminho?
"E o velho estremeceu... olhou... e riu...
Agora pela estrada, já cansados,
Voltam todos p'ra trás desanimados...
E eu paro a murmurar: "Ninguém o viu!..."

Florbela Espanca

O meu amor

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
E me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Chico Buarque

domingo, 20 de janeiro de 2008

Guardador de Rebanhos XXI



Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer,
lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Alberto Caeiro

Alberto Caeiro

O heterónimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é o poeta-pastor que vive feliz no meio do seu rebanho, contemplando as flores, os campos, o sol, a água, e que sente a frescura cheirosa da terra.
Fortemente ligado á natureza, Alberto Caeiro recusa saber do passado e do futuro, pois tal acto levá-lo-á a 'atraiçoá-lo'. Não existindo, para Caeiro, nem passado nem futuro, é natural que este se encontre perdido, duvidando do seu próprio eu.
"Caeiro limita-se a existir, tendo nos lábios o sorriso que se atribui em verso às coisas inanimadas e belas, só porque nos agradam - um sorriso de existir e não de nos falar!"
Diz “pensem que sou uma cousa natural”, pois vê-se como um simples elemento da natureza, “um animal humano que a natureza produziu”.
Homem de visão ingénua e instintiva, defende que os órgãos dos sentidos são os canalizadores de todas as percepções.
O autor de “O guardador de rebanhos” considera-se “antimetafísico” (só acredita no que vê), recusa-se a interpretar o real recorrendo à inteligência, porque esse tipo de interpretação reduz “as coisas a simples conceitos vazios” não vê as coisas senão como elas se apresentam. “As coisas são o único sentido oculto das coisas”.
É considerado o mestre, por ter conseguido escrever trinta e tantos poemas a fio.
A sua poesia é, de facto, sensacionista, pois privilegia as sensações como a única verdade do mundo, em oposição ao pensamento. Diz “Pensar incómoda como andar á chuva”, e ainda “pensar é estar doente dos olhos”.
Para ele, a criança é o símbolo supremo da vida, querendo desaprender o quanto lhe foi convencionalmente imposto, “raspar a tinta com que [lhe] pintaram os sentidos”. Vê as coisas como uma criança: “nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo”.
Em suma, uma arte de ser, inteiramente desligado dos valores culturais, pretendeu, sobretudo, ser.

Fernando Pessoa Heterónimo

Os heterónimos são resposta à necessidade de expressão de uma multiplicidade contraditória e avassaladora de sentimentos e ideias.
Os heterónimos são pessoas fictícias que se identificam com o autor ou são formas de ‘mostrar’ como ele gostaria de ser.
Fernando Pessoa teve muitos heterónimos, os mais importantes são : Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Guardador de Rebanhos IX


Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro