O heterónimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é o poeta-pastor que vive feliz no meio do seu rebanho, contemplando as flores, os campos, o sol, a água, e que sente a frescura cheirosa da terra.
Fortemente ligado á natureza, Alberto Caeiro recusa saber do passado e do futuro, pois tal acto levá-lo-á a 'atraiçoá-lo'. Não existindo, para Caeiro, nem passado nem futuro, é natural que este se encontre perdido, duvidando do seu próprio eu.
"Caeiro limita-se a existir, tendo nos lábios o sorriso que se atribui em verso às coisas inanimadas e belas, só porque nos agradam - um sorriso de existir e não de nos falar!"
Diz “pensem que sou uma cousa natural”, pois vê-se como um simples elemento da natureza, “um animal humano que a natureza produziu”.
Homem de visão ingénua e instintiva, defende que os órgãos dos sentidos são os canalizadores de todas as percepções.
O autor de “O guardador de rebanhos” considera-se “antimetafísico” (só acredita no que vê), recusa-se a interpretar o real recorrendo à inteligência, porque esse tipo de interpretação reduz “as coisas a simples conceitos vazios” não vê as coisas senão como elas se apresentam. “As coisas são o único sentido oculto das coisas”.
É considerado o mestre, por ter conseguido escrever trinta e tantos poemas a fio.
A sua poesia é, de facto, sensacionista, pois privilegia as sensações como a única verdade do mundo, em oposição ao pensamento. Diz “Pensar incómoda como andar á chuva”, e ainda “pensar é estar doente dos olhos”.
Para ele, a criança é o símbolo supremo da vida, querendo desaprender o quanto lhe foi convencionalmente imposto, “raspar a tinta com que [lhe] pintaram os sentidos”. Vê as coisas como uma criança: “nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo”.
Em suma, uma arte de ser, inteiramente desligado dos valores culturais, pretendeu, sobretudo, ser.